Alunos do Colégio da PMCE desenvolvem projeto "Astronomia para Deficientes Visuais" e colocam em prática nesta tarde (18).
“É uma experiência única poder
passar toda essa informação e ver o pessoal empolgado. É muito lindo”. A
declaração da adolescente Marília Sousa Bucar Paz (15) é sobre o projeto
“Astronomia para Deficientes Visuais”, desenvolvido por estudantes do Colégio da
Polícia Militar do Ceará General Edgard Facó (CPMGEF). Marília é um dos nove
estudantes responsáveis pelo trabalho que foi colocado em prática, na tarde
desta terça-feira (18), no Instituto Doutor Hélio Goes, que assiste estudantes
com deficiência visual em sistema de escola regular.
Fazer com que deficientes visuais
conheçam o universo e saibam o que é astronomia é o objetivo da equipe formada
por Marília Sousa Bucar Paz (15), João Matheus de Lima Queiroz (17), Beatriz
Oliveira de Sousa (17), Luiz Fernando Cardoso de Souza (16), Jefferson Brenno
da Silva Eugênio (18), Douglas Mendes Baracho (18), Ruan de Sousa Montenegro
(16), Pedro Ricardo dos Santos de Jesus (16) e Karen Helen Rodrigues Carneiro
(16). Eles fazem parte da turma do 2º Ano do Ensino Médio do Colégio da
PMCE.
A atividadedos alunos, elaborada
em duas semanas,recebeu a orientação do professor Luciano Santos Lima, da
disciplina de física. Ele lançou a proposta de trabalhar a ciência com
deficientes visuais em sala de aula. “A ideia surgiu a partir do trabalho de
mestrado, de ciência acessível para todo tipo de dificuldade de aprendizado”,
explica o educador. A temática foi exposta aos alunos durante os preparativos
da semana cultural do CPMGEF, que será realizada entre os dias 24e 28 deste
mês.
Papelão, isopor, pedaços de
tecido, barbante, cola e latinhas de refrigerante. Estes são alguns dos
materiais utilizados pelos estudantes para reproduzir o Sol, a Lua os planetas
e todo o universo. “Como será a astronomia para uma pessoa com deficiência?
Para nós, é tudo muito visual. Esse projeto é interessante, porque possibilita
a aprendizagem com outros sentidos, como o tato”, avalia Karen Helen. Por
aproximadamente quatro horas, crianças e adolescentes com idades e graus de
cegueira variados puderam apalpar os planetas feitos com objetos reutilizáveis
e comparar o tamanho deles com o do Sol. A estrutura de isopor com papel em
alto relevo permitiu que as mãos dos alunos sentissem como é a superfície da
Lua e dos planetas.
Um dos contemplados com a
apresentação foi Juan Pablo Fernandes Cruz (14), com deficiência visual e
estudante do 6º ano doInstituto. “Esse momento é muito interessante, porque a
gente consegue perceber como funciona o universo. Por mais que os professores
tentassem nos explicar, não iríamos ter condições de saber como isso funciona”,
comemora o garoto, ao falar que aproveitou o momento para tirar dúvidas sobre a
gravidade. Assim como Juan, outros estudantes aproveitaram a oportunidade para
se aventurar pelo universo com o tato bem aguçado. Enquanto eles apalpavam os
objetos, os alunos do CPMGEF descreviam a esfera e narravam com explicações
científicas.
No lugar do outro
Antes de começarem as
apresentações, os alunos, juntamente com o professor Luciano, foram levados por
educadores do Instituto para uma sala totalmente escura e com objetos variados.
O intuito foi fazer com que os estudantes percebessem como as pessoas com
deficiência visual usam os outros sentidos e quais suas necessidades. “É uma situação
de medo. Talvez tenha sido a pior experiência da minha vida”, relatou uma das
alunas. O depoimento de Marília, sobre achar linda a empolgação dos deficientes
visuais por astronomia, foi dado após ela passar pela sala escura. A garota se
colocou no lugar dos alunos e percebeu suas necessidades. “Isso também é o
resultado do nosso trabalho. Uma troca de experiências”, declarou,
emocionada.
Marília e Ruan são dois dos
estudantes que possuem a patente de major da turma. Já Karen é tenente coronel
do 2º Ano. Para alcançar os títulos, os alunos precisam ter boas notas e bom
comportamento. No caso, Karen é a única tenente coronel de sua série, sendo a
aluna que mais se destaca. Na família, as patentes dos adolescentes são motivo
de orgulho e alegria para os pais. “Eles brincam muito. Meu pai é subtenente da
PM e eu já sou major”, brinca Marília.
O instituto
O Instituto Doutor Hélio Goes
funciona da educação infantil ao ensino fundamental, com alunos com idades
entre três e 90 anos. São pessoas com deficiências variadas nos olhos,
ocasionadas por motivos diversos. Atualmente, o Instituto possui, em média, 300
alunos. Os professores da Instituição passam por formação dentro da deficiência
visual. “Nós ficamos muito felizes em ver o trabalho dos meninos, por se tratar
de uma disciplina que não é fácil de explicar, que é a física”, declara a
diretora da escola, Luiza Emília Soares (50).
O local ainda oferece alimentação
para os estudantes e é mantido por doações. “Que as pessoas venham conhecer
nosso trabalho”, convida a diretora. As visitas ao Instituto ocorrem durante as
quartas-feiras. Para agendamento e mais informações, o telefone para contato é
3206-6840.
Fonte: SSPDS
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